
[ Fernanda Mello. ]

Diz o ditado que quem tem telhado de vidro não deve atirar pedra. Então tragam logo meu estilingue. Meu telhado é de cristal. Legítimo. Límpido. Transparente. Podem revirar meu passado, meu e-mail, agenda ou celular. Não vão encontrar nada. Não escondo nada. Não guardo mágoas, cartas, memórias. Não sei da vida de quem passou pela minha e não quis ficar. Não tenho rabo preso. Nem, tão pouco, relacionamentos mal resolvidos. Não tenho outras intenções que não as que eu digo.
Eu sei que é uma besteira. O problema é que as besteiras juntas, formam um aperreio desses bem grandes. Não, nem é aperreio. É mais uma chateação. Sim, porque quase não fico mais triste. Mas, tenho sentido muita raiva. Muita vontade de fazer você sentir o mesminho pra entender como é ruim. Aí, fico pensando no que poderia fazer e não encontro nada que te aflija. Parece que você é imune a essas pequenices, mas só parece. Ninguém é, na verdade. Ninguém. Bem sei. Mas, enquanto não descubro como, fico ali com a mão gelada e o coração apertado. Não tenho dúvidas sobre o porquê. Sei que você acha que não é nada demais e vai morrer achando que não é nada demais, mas puxa vida. É tão impossível assim se colocar no lugar do outro? Fazer um esforcinho? Porque eu faço um esforço medonho pra não me importar, mas até agora não tenho conseguido muito. Pelo contrário, fico achando que é muita falta de consideração e falta de consideração das pessoas que mais importam nesse mundo parece infinitamente mais grave. Eu não vou te falar essas coisas, porque não adianta te falar essas coisas. Você só se chateia, eu só me chateio e não muda nada. Mas, precisava desabafar. Embora, isso também não mude nada.
Dizem que os incomodados é que devem se retirar. Concordo. Se alguma coisa me incomoda, abandono o barco. Chuto o tal do balde. Ficar insistindo em uma coisa que não vai dar certo nunca foi a minha especialidade. Manter namoros estressantes, amizades interesseiras, empregos sem futuro não faz muito sentido na minha cabeça. Desculpe minha mania de ser clichê, mas a vida é muito curta pra gente perder tempo. Não é nada fácil me agüentar, eu sei. Sou implicante. Pouco tolerante. Pirracenta. Mimada. Falo o que penso. Faço o que tenho vontade (só o que tenho vontade!). E pior: sou adepta de uma filosofia de vida muito objetiva que eu mesma desenvolvi: "Quer? Quer. Não quer? Não quer". Muito simples. E é assim que eu gostaria que agissem comigo.
Então eu te disse o que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem as pessoa exatas. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.
Estar sozinho é engraçado, louco, angustiante, libertário e triste, tal qual estar com alguém.
Eu sou uma eterna apaixonada por palavras. Música. E pessoas inteiras. Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias são chatas e me dão sono. Gosto de quem mete a cara, arrisca o verso, desafia a vida. Tem muita coisa dentro de você? Então jogue essa porra de identidade fora e senta aqui. Pára de falar da rave. Da viagem. Das 200 horas que ficou sem dormir ouvindo tuntztuntz. Ok, pode falar! Mas seja breve. Eu quero saber sobre você. VOCÊ! Você não é só uma festa, uma foto de orkut, um carro bonito que te custa caro. Você não é só um i-phone, uma tv de plasma, uma notícia barata de jornal. VOCÊ É GENTE! E gente sente. Gente ama, sofre, sente sono. E tem medo. EU TENHO MEDO. Eu, na verdade, tenho muitos medos. E um deles é que as pessoas virem apenas uma IMAGEM. Não para os outros (que se fodam os outros!), mas para si mesmo.
"Hoje acordei inteira. Migalhas? Pedaços? Não, obrigada. Não gosto de nada que seja metade. Não gosto de meio termo. Gosto dos extremos. Gosto do frio. Gosto do quente (depende do momento.) Gosto dos dedinhos dos pés congelados ou do calor que me faz suar o cabelo. Não gosto do morno. Não gosto de temperatura-ambiente. Na verdade eu quero tudo. Ou quero nada. Por favor, nada de pouco quando o mundo é meu. Não sei sentir em doses homeopáticas. Sempre fui daquelas que falam "eu te amo" primeiro. Sempre fui daquelas que vão embora sem olhar pra trás. Sempre dei a cara à tapa. Sempre preferi o certo ao duvidoso. Quero que se alguém estiver comigo, que esteja. Mesmo que seja só naquele momento. Mesmo que mude de idéia no dia seguinte."
"...Sigo a vida conforme o roteiro, sou quase normal por fora, pra ninguém desconfiar. Mas por dentro eu deliro e questiono. Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, um alegria que caiba dentro da bolsa. Eu quero mais que isso. Quero o que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e quero sem fim. Não cresci pra viver mais ou menos, nasci com dois pares de asas, vou aonde eu me levar. Por isso, não me venha com superfícies, nada raso me satisfaz. Eu quero é o mergulho. Entrar de roupa e tudo no infinito que é a vida. E rezar – se ainda acreditar – pra sair ainda bem melhor do outro lado de lá."
"Ela também teve seu coração machucado. Dilacerado, imagino. Normal. Desse mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sim, sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!"
"Vem cá. Me dá aqui a sua mão. Coloca sobre meu peito. Agora escute. Olha o tumtumtum. Você pode me ouvir? É pra você, seu besta! É por você que meu coração bate! (Ele, que de tanto bater, parou sem querer outro dia). Posso confessar? Jura que vai acreditar em mim? A verdade é que estou de saco cheio de histórias românticas. Meus casos de amor já não têm a menor graça. Será que você me entende? Eu não escrevo porque vivo amores cinematográficos e quero contar pro mundo. Não!! Eu escrevo porque eu sou uma maluca. Minha vida é real demais. Um filme B pra ser mais exata. E eu não acho graça em amores sem final feliz. Por isso, invento. Pro sangue correr pelas veias, pra lágrima cair dos olhos, pra adrenalina sacudir o corpo. Eu invento amores pra ver se eu acredito em mim. (Acredita?). Mas hoje eu estou cansada. Estou cansada de mentiras, de realidade, de telefone mudo e de músicas sem letra.(...)
-Alô...
O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Amor, pra mim?
Quando eu me vejo assim, pequena e oprimida, não sou Verônica.
Fala o que queres de mim...
Vou tentar te fazer entender, mesmo que você não tenha perguntado. Só quero explicar tudo e falar com você pela última vez, se necessário.
Você ficou mal quando eu terminei, mas insisto que foi pelo seu bem. Seria pior comigo e não vou repetir todas as minhas razões que tanto te irritam porque você só finge entender. Tentar me entender foi um grande desperdício de tempo. Eu nunca me apaixonei por você, mas sempre gostei muito. Principalmente porque achei que você gostasse de mim. Admirei seu coração e respeitei seus medos. Agora, já não sei se ainda sinto.
Lembra da minha coleção de decepções? Você faz parte dela agora. Não definitivamente pela minha mania de preferir acreditar na inocência. Foi tudo uma coincidência até que se prove o contrário.
Foi algum tipo de vingança ou foi só por acaso? Qualquer das opções foi muito infeliz. Se você queria me ver mal, acertou muito. Mas conquistou um sentimento meu desaconselhável.
Certo, vamos parar com códigos e ir direto ao ponto. Você disse que não gostava dela (pra me agradar, porque era conveniente ou era verdade? Tanto faz.) mas agora resolveu procurar conversa. Adivinha? Achou! Eu sei, ela é super simpática. Você acha que ela tem tantos amigos por quê? Ela é linda, espontânea. Não é? E você sempre achou que eu estivesse errada, eu sempre te impedi de fazer amizade com alguém tão legal!
Vou ser mais específica: é como se você me dissesse "Tem razão, ela é melhor do que você. Toda a sua insegurança tem sentido e você vai passar o resto da sua vida à sombra dela. Porque é isso que você é: uma sombra. Alguns veem, acham diferente, mas logo se acostumam porque sabem que só existe durante o dia, logo some."
Você não tem idéia da profundidade que você acessou. É coisa de uma vida inteira, são comprovações de tudo de mais podre que me persegue. É profundo o suficiente pra eu querer você longe, só pra voltar a fingir que não existe. É muita mágoa e agora você faz parte disso. A classe dos suscetíveis à superficialidade, dos que preferem a mediocridade e arriscam a possibilidade.
Se isso te afeta eu não sei, mas quando você ganhou a amizade de msn dela, perdeu tudo o que eu guardava pra você. Se você não quis, ótimo. Eu falei que você me procurasse se minha amizade causasse algum interesse, mas já entendi o não.
Foi melhor que falar.
Obrigada por abrir meu olhos. Eu sempre achei que avisar as pessoas do que eu sinto fosse me prevenir de mais decepções, mas eu percebi que só me deixa mais vulnerável.
Idiota fui eu, de acreditar cegamente em tudo. Obrigada por me deixar mais seletiva, mais fechada.
Seria ridículo culpar você por alguma coisa. O resultado óbvio de tudo o que eu fiz só podia ser isso.
Foi melhor que falar.
Verônica H.

Em muitos momentos de nossas vidas somos a peça certa no lugar errado. Estamos em um jogo constante em nossas vidas, às vezes estamos passando por uma fase muito tranqüila onde não temos dificuldade alguma.
Sabe aquele medo, aquela insegurança de não dar certo... de você voltar a viver todos aqueles tormentos, aquelas angústias, as mesmas velhas decepções.
Texto 1
Texto 2
Sou eu que começo? Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos. Nossa, pareço uma metralhadora disparando informações como se estivesse preenchendo um cadastro para arranjar marido. Ponha na conta da ansiedade. A propósito, tenho marido e tenho três filhos.
Sou de gêmeos. Um signo de ar, mutável. Eu me distraio com tudo e você não imagina a facilidade que eu tenho de viajar sem sair do lugar. Mas nem tudo que nasceu comigo, ficou. Algumas situações amarraram meus pés no chão, fazendo com que eu me agarrasse firmemente à realidade. Paixões platônicas, Lindo, são para crianças. Foi isso que eu repeti silenciosamente, até me convencer. E deu certo. Quando começo a me iludir por alguém, racionalizo tudo: Por que eu me interesso tanto por ele? Por que ele se interessaria por mim? Por que a gente daria certo? E funciona! Esqueço com impressionante rapidez do meu interesse. Ah, as coisas ficam tão mais fáceis desse jeito! Você não sabe, Menino, mas eu machuco as pessoas. Eu faço com que elas se apaixonem por mim como um desafio, como uma criança testando seus limites. Então enjoo do meu jogo e não dou explicações. Destruo corações que se abrem pra mim com tanto esforço, na esperança de terem encontrado alguém legal. Ainda dá pra você fingir que não me viu. Se der tempo, se você tiver o raro dom de controlar seu coração, se o sentimento não estiver suficientemente forte à ponto de você se prender, fuja. Se você nem ao menos me diferencia das outras pessoas que te cercam, como eu imagino, permaneça assim. Não se aproxime, não se apaixone. Não me escolha como a eleita dos seus dias. Escolha uma dessas meninas com perfis de orkut todos iguais, que gostam de msn, que querem ser pedidas em namoro. Essas meninas que choram e sofrem, depois esquecem e ficam submissas. Dessas que conseguem se apaixonar, se apegar, amar. Eu não sou assim. Eu sou fria e jogo com as pessoas - não por maldade, mas porque inconscientemente me envolvo com brincadeiras, que na verdade são vidas de gente que ama e sofre de verdade. É, procure a saída mais próxima e parta de vez para uma relação humana, comum, sólida, eterna na sua duração e cheia de palavras e promessas de carinho. Eu tenho aflição de toque e sou incapaz de jurar amor sem pensar e ter certezas.
Como é acordar com sua voz bebendo café, ouvir seu bom-dia atrasado ao serviço? Como é ter um pai entrando no quarto secretamente, para ver se finalmente dormi? Um pai que confere a extensão das cobertas e se as janelas estão fechadas? Um pai que coloca remédio de mosquito e esfrega a manga morna do pijama em minha testa? Como é ter um pai que me acompanha na consulta ao médico? Um pai que assina o boletim? Como é ter um pai perseguindo baratas pela tranqüilidade doméstica? Como é brincar com um pai: aprender a dobradura de papel de chapéu e barcos? Como é ter um pai para perguntar que horas ele voltou do trabalho? Como é empurrar um pai pelos barulhos estranhos no pátio? Como é ter um pai angustiado com a demora materna, e que me dá banho, me oferece janta e esconde sua preocupação? Como é ter um pai para segurar as lâmpadas enquanto ele sobe na escada? Como é ter um pai para se escorar enquanto ensaio a primeira seqüência de passos? Como é andar de bicicleta com um pai? Observar atrás se ele me segue? Como é escutar o ronco terrível do pai e se sentir protegido? Como é ter um pai para reclamar docilmente da mãe, dizer que ela não me entende? Como é ter um pai que não me entende? Como é ter um pai para freqüentar a casa dos avós no final de semana? Como é ter um pai para xingar e logo após reaver a gentileza do abraço? Um pai que estará no seu escritório, num lugar certo, a facilitar minha desculpa? Como é ter um pai para responder com confiança aos seus conhecidos como está meu pai? Um pai para me levar aos jogos de futebol e ocupar o trajeto de volta comentando o resultado? Como é ter um pai para receber presentes de aniversário, e me ajudar a retirar o papel bonito sem estragar? Como é ter um pai para sanar as dúvidas das aulas, as operações difíceis, as curiosidades sobre planetas, estrelas e bichos? Como é ter um pai mais rápido do que o dicionário e que conta o que significa tal palavra? Como é ter um pai com passado? Como é ter um pai chateado, endividado, alinhando contas do que não podemos mais gastar? Como é ter um pai com emprego novo, que não pára de falar das novidades no almoço? Como é ter um pai para pedir o carro emprestado? Um pai para inventar uma mentira e dormir fora de casa? Como é ter um pai aguardando na saída da escola? Como é ter um pai preocupado, confessando que perdeu o sono quando na verdade o esperava na madrugada? Como é ter um pai para me convencer que as dores passam, que amanhã estarei bom, que eu tive coragem? Como é ter um pai a me orientar - de um modo patético - sobre transar com segurança? Como é ter um pai beijando a mãe, sussurrando qualquer coisa que a faça rir, e eu me escondendo para que não me vejam? Como é ter um pai para sair ao cinema, e escorrer pipocas pelas suas mãos? "Como é ter um pai para sentir saudade devagarinho, de um dia para outro ou por algumas horas?" Como é ter um pai preocupado em fotografar a família nas férias? Como é ter um pai festejando uma promoção com jantar no restaurante predileto e só entender sua alegria? Como é ter um pai histérico, procurando seus óculos, seus livros e cartões extraviados? Como é ter um pai alegando que estava nervoso depois de uma grosseria e compreender que é o máximo que ele se aproximará de um perdão? Como é suportar um pai cantando desafinado suas músicas antigas? Como é ter um pai a me socorrer e convencer a mãe a gostar de minha namorada? Como é sentar no sofá com um pai e assistir um filme reprisado e comentar: “esse eu já vi”: e continuar assistindo a amizade de sentar ao lado dele? Como é ter um pai para ser parecido com ele? Como é ter um pai vibrando com minha aprovação no vestibular, pregando faixas na frente da residência? Como é ter um pai para procurá-lo nas centenas de poltronas da formatura? Como é ter um pai que explica que “as coisas eram diferentes no seu tempo”? Como é ter um pai que não descobriu que envelheceu porque empresto meus olhos da infância? Como é ser espetado no rosto pela barba do pai? Faz coceira, arranha?