segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nua e Crua



Eu queria ser famosa. Estampar as capas das revistas com minha felicidade instantânea e dizer que estou ótima depois de uma separação traumática. Queria ir pro Big Brother e fazer melhores amigos em uma semana. Queria dizer que amo com um mês de namoro. Queria achar super normal que o cara que eu amo conversa no MSN com mulheres que ele acha gostosas. Queria que, quando alguém me chamasse de gostosa, isso fosse um elogio ao meu caráter e não um “eu te comeria se você me desse mole”. É provável que eu fosse mais feliz assim.

Mas eu sou tradicional. Sou convencional, apesar de não ser normal. Se eu me corto, eu sangro. Se bato o dedo no pé da mesa, dói. Sou uma pessoa comum. Acredito no até que a morte nos separe e também no eterno enquanto dure. Acredito que, se eu sou capaz de ser fiel, alguém mais pode ser. Acredito que eu não sou uma laranja, mas preciso da minha outra metade pra me sentir inteira. Valorizo as pequenas atitudes, assim como condeno pequenas mancadas. Sou rancorosa, guardo por anos uma coisa que me magoou de verdade. Sei perdoar. Passo por cima dos erros pra ficar junto das pessoas que eu gosto. Tenho meus limites. O primeiro deles é meu amor-próprio. Perdôo uma vez, porque errar é humano. Perdôo duas porque o ser humano é estúpido às vezes. Mas não posso viver perdoando porque isso seria incompetência minha.

Acredito que as pessoas aprendem com os próprios erros e com o tempo. Acredito também que quem traiu uma vez e foi perdoado vai trair de novo. Acredito que aquelas pessoas que vivem falando mal dos outros vão falar mal de você com esses outros. Acredito que as pessoas só mudam por vontade própria e nunca pelo pedido de outra pessoa. Acredito que tudo que eu acredito hoje vai mudar com o tempo. E que, no futuro, talvez, eu acredite em menos coisas. Ou em nada mais.
Nunca vendi meu corpo, nem nunca sequer considerei essa possibilidade. Eu sei exatamente o tipo de homem que sai com puta. E esse tipo me dá náusea. Nunca precisei experimentar drogas pra pertencer a nenhum grupo. Me dou bem com todo tipo de gente e as pessoas costumam gostar de mim apesar do que eu sou. Tenho verdadeira repulsa por homem mulherengo. Detesto aquele tipinho “caminhoneiro” (que fala pra esposa que tem uma em cada ponto, mas ela é a única que ele ama). Detesto mulher corna que se explica pras pessoas “mas ele me ama”. Sexo com outras pessoas só é perdoado quando é o homem que faz. Detesto homem machista. Detesto o tipinho que vai pra farra enquanto a mulher tonta espera em casa. Detesto mulher tonta.
Eu queria ser famosa pra fingir que não sinto dor. Pra fingir que sou perfeita na capa das revistas masculinas. Pra fingir que não preciso fingir. Queria ser famosa pra ser uma fruta e não uma cabeça que pensa. Mas escrever nunca deu dinheiro, nem capa de revista, nem melhores amigos no Big Brother. Escrever é pra pessoas de quinta como eu, que não vão fazer seu primeiro milhão vendendo o que tem no meio das pernas pra adolescentes de 30 anos de idade. Queria ser famosa pra experimentar uma vida que, dizem por aí, é melhor que a minha. Queria ser famosa pra ver se eu conseguiria ser eu.

Brena Braz

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sobre tédio e pau de ferro.


Morro de tédio de gente que segue à risca as convenções sociais. Que se casa porque está velho demais pra ser solteiro (ham???), que engravida porque está “na hora” de ter um filho, que não se separa nem depois que o casamento acaba. Sabe qual o resultado disso? Outras pessoas (que espertamente não caíram nessas convenções sociais) ganham rios de dinheiro vendendo livros e cursos de “como apimentar sua relação”. A maioria, claro, ensina mulheres a dançar num pau de ferro no meio da sala ou fazer strip-tease com cinta-liga vermelha. De verdade?! Acho pouco provável que isso vá apimentar alguma coisa depois que o relacionamento foi pro ralo. Fora dizer que é um tanto quanto clichê.

Por que ninguém monta um curso para homens de “como apimentar sua vida amorosa ouvindo o que sua mulher tem pra dizer”? Ou “como segurar seu casamento dizendo a verdade”? Ou “como não cantar sua vizinha no elevador se você já tem um relacionamento”? Ou ainda “Como se divorciar dignamente sem pular a cerca”? Sabe por que? Por que isso são valores. Sua postura diante da vida e dos fatos que te cercam. E valores não são ensinados em livros, muito menos em cursos.

Até entendo que, depois de anos de relacionamento com a mesma pessoa, qualquer mulher que não seja a sua se torne candidata à mais interessante da vez. A vizinha gostosa só é vista no elevador toda linda saindo pra balada. A colega de trabalho tem sempre um assunto que te interessa e nunca vai parecer fútil. As amigas são sempre bem humoradas, não têm ciúme, não pegam no seu pé e ainda têm o maior prazer em te apresentar as amigas gatas. Olhando por essa perspectiva, qualquer namorada parece uma bruxa mesmo. Difícil de competir.

Manter um relacionamento por longos anos requer um certo jogo de cintura (e não estou falando da dança do pau de ferro, nem da cinta-liga). É um exercício diário de tolerância. Respeito. Admiração. Confiança. Companheirismo. Cumplicidade. Pensa que acabou? Ainda nem citei: o amor, a amizade, o carinho e outros tantos alicerces de um relacionamento que ainda não encontramos em livro ou curso de final de semana. Não é simples. Não tem um manual ou um curso rápido itinerante (daqueles que a “mestra” viaja pelas cidades ministrando palestras pra “salvar” casamentos). E não se trata apenas de manter o cidadão interessado no seu corpo. Esse cidadão inevitavelmente vai olhar pra vizinha, mais cedo ou mais tarde, achando ela mais interessante que a mulher que ele tem. A princípio, nada de errado em achar a vizinha gostosa. O grande lance é: o que ele vai fazer com isso? Ele pode cantar a cidadã. Pode pegar o telefone dela. Pode trocar MSN e manter conversas durante o trabalho. Pode dizer que é solteiro. Pode uma série de coisas. Isso não tem a ver com lingerie ou curso de sedução. Tem a ver com valores. Com a índole do cidadão. Com berço. Com as coisas nas quais ele acredita. Assustada? Jura mesmo que nunca tinha pensado nisso? Sinto informar, mas o curso de sedução é válido pra uma noite caliente, não pra uma vida. Pra viver junto e manter um relacionamento sólido é preciso muito mais do que uma lingerie nova. É preciso que ambos tenham valores e princípios muito claros. É preciso que os dois estejam juntos por essa série de sentimentos e não apenas por uma convenção social. É preciso aprender que a grama do vizinho uma hora vai parecer mais verde sim. Mas que existem diversas formas de se lidar com uma situação. E é isso que vai fazer toda diferença no final.

Brena Braz (http://www.ateondevai.com/)