sábado, 31 de outubro de 2009

::: Para ler ouvindo: Almost lover- A fine Frenzy :::

Vou tentar te fazer entender, mesmo que você não tenha perguntado. Só quero explicar tudo e falar com você pela última vez, se necessário.

Você ficou mal quando eu terminei, mas insisto que foi pelo seu bem. Seria pior comigo e não vou repetir todas as minhas razões que tanto te irritam porque você só finge entender. Tentar me entender foi um grande desperdício de tempo. Eu nunca me apaixonei por você, mas sempre gostei muito. Principalmente porque achei que você gostasse de mim. Admirei seu coração e respeitei seus medos. Agora, já não sei se ainda sinto.

Lembra da minha coleção de decepções? Você faz parte dela agora. Não definitivamente pela minha mania de preferir acreditar na inocência. Foi tudo uma coincidência até que se prove o contrário.

Foi algum tipo de vingança ou foi só por acaso? Qualquer das opções foi muito infeliz. Se você queria me ver mal, acertou muito. Mas conquistou um sentimento meu desaconselhável.

Certo, vamos parar com códigos e ir direto ao ponto. Você disse que não gostava dela (pra me agradar, porque era conveniente ou era verdade? Tanto faz.) mas agora resolveu procurar conversa. Adivinha? Achou! Eu sei, ela é super simpática. Você acha que ela tem tantos amigos por quê? Ela é linda, espontânea. Não é? E você sempre achou que eu estivesse errada, eu sempre te impedi de fazer amizade com alguém tão legal!

Vou ser mais específica: é como se você me dissesse "Tem razão, ela é melhor do que você. Toda a sua insegurança tem sentido e você vai passar o resto da sua vida à sombra dela. Porque é isso que você é: uma sombra. Alguns veem, acham diferente, mas logo se acostumam porque sabem que só existe durante o dia, logo some."

Você não tem idéia da profundidade que você acessou. É coisa de uma vida inteira, são comprovações de tudo de mais podre que me persegue. É profundo o suficiente pra eu querer você longe, só pra voltar a fingir que não existe. É muita mágoa e agora você faz parte disso. A classe dos suscetíveis à superficialidade, dos que preferem a mediocridade e arriscam a possibilidade.

Se isso te afeta eu não sei, mas quando você ganhou a amizade de msn dela, perdeu tudo o que eu guardava pra você. Se você não quis, ótimo. Eu falei que você me procurasse se minha amizade causasse algum interesse, mas já entendi o não.

Foi melhor que falar.

Obrigada por abrir meu olhos. Eu sempre achei que avisar as pessoas do que eu sinto fosse me prevenir de mais decepções, mas eu percebi que só me deixa mais vulnerável.

Idiota fui eu, de acreditar cegamente em tudo. Obrigada por me deixar mais seletiva, mais fechada.

Seria ridículo culpar você por alguma coisa. O resultado óbvio de tudo o que eu fiz só podia ser isso.

Foi melhor que falar.

Verônica H.


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Almost Lover


Almost Lover
A Fine Frenzy

Your fingertips across my skin
The palm trees swaying in the wind
Images

You sang me Spanish lullabies
The sweetest sadness in your eyes
Clever trick

I never wanna see you unhappy
I thought you'd want the same for me

Goodbye, my almost lover
Goodbye, my hopeless dream
I'm trying not to think about you
Can't you just let me be?
So long, my luckless romance
My back is turned on you
Should I known you'd bring me heartache?
Almost lovers always do

We walked along a crowded street
You took my hand and danced with me
Images

And when you left you kissed my lips
You told me you'd never ever forget these images, no

I never wanna see you unhappy
I thought you'd want the same for me

Goodbye, my almost lover
Goodbye, my hopeless dream
I'm trying not to think about you
Can't you just let me be?
So long, my luckless romance
My back is turned on you
Should I known you'd bring me heartache?
Almost lovers always do

I cannot go to the ocean
I cannot drive the streets at night
I cannot wake up in the morning
Without you on my mind
So you're gone and I'm haunted
And I bet you're just fine
Did I make it that easy for you
To walk right in and out of my life?

Goodbye, my almost lover
Goodbye, my hopeless dream
I'm trying not to think about you
Can't you just let me be?
So long, my luckless romance
My back is turned on you
Should I known you'd bring me heartache?
Almost lovers always do

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A peça certa no lugar errado

Em muitos momentos de nossas vidas somos a peça certa no lugar errado. Estamos em um jogo constante em nossas vidas, às vezes estamos passando por uma fase muito tranqüila onde não temos dificuldade alguma.
Há momentos onde passamos por fases extremamente difíceis, tentamos de todas as formas possíveis nós posicionar e recuperar a situação da maneira melhor possível.
Há também aqueles jogadores que desistem na primeira tentativa, e acabam perdendo a oportunidade de passar para uma fase melhor.
A inconstância das coisas que ocorrem em nossas vidas é enorme e faz com que a gente queira jogar cada dia mais e mais.
Passam por todas as fases pessoas boas que são nossos companheiros, aqueles que nós ajudam nos momentos difíceis, eles são nossos amigos, nossas vidas extras, nosso equipamento de ajuda.
Os inimigos são a parte principal do jogo, sem eles não há o que passar o que vencer o que querer mudar.
Durante todas as fases conhecemos mundos diferentes, lugares nunca imaginados, pessoas diferentes. A cada fase de nossas vidas é possível decidir qual caminho seguir, e dependendo das nossas escolhas podemos perder a oportunidade de ser feliz e ganhar o jogo.
Escolhemos as peças erradas para jogar com a gente, enquanto a peça certa está ali na nossa frente só esperando uma oportunidade, um olhar, uma escolha certa...
Existem varias pessoas que preferem acumular o maior numero de peças possíveis, algumas de primeiro plano e outras apenas como válvulas de escape, algo que será usado somente quando nada mais der certo. Há pessoas que preferem jogar sozinhas, tem medo de arriscar e não ter retorno algum.
Quando a fase é muito fácil nós perdermos o interesse, é muito mais gostoso ter o que é mais difícil, passar por aquilo que é mais difícil é mais gratificante. Quem gosta de situações previsíveis, fases fáceis? O bom é viver constante variação, superação, surpreender-se com o que acontece.
Tudo que vem fácil vai fácil, acredite, se você for uma peça de fácil acesso uma fase simples as pessoas pouco vão se importar com você. A tendência é procurar o que não está na nossa frente, e sim algo mais misterioso que vai nós fazer encantar, procurar e descobrir.
Sempre no final de cada fase um grande desafio a ser combatido. Se você não lutar, não passar por dificuldades você não vai sair do lugar. Atrás de um grande objetivo haverá sempre um grande caminho, uma grande luta...
Você passa a vida toda procurando os bônus que ela pode oferecer, você usa peças erradas, talvez até por muito mais tempo que deveria e descarta a peça certa do jogo de sua vida. E quando você se dá conta aquela peça certa que faltava no seu jogo já se modelou para outro jogador, porque não se pode esperar tanto quando se percebe que não há jogo.
Você luta, erra, acerta ganha, faz suas escolhas, é feliz, sorri, chora, se decepciona, passa raiva, passa fases, caminha, tem surpresas, se desespera, se encanta, vacila, faz planos, sonha, realiza, não alcança, usa peças erras, joga fora as peças certas...
Mas sabe o que acontece mesmo que você vai ganhar ou perder? No final de tudo, independente de qualquer coisa o final será o mesmo: Game Over. A única diferença vai ser como você passou pelas fases, quantas vezes você lutou, contra quem ou o que você lutou. Mas o fim de jogo sempre virá.

Rosi Roani

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Signs

Curta dirigido por Patrick Hughes.
Apresentado no Schweppes Online Film Festival.
Que fala sobre comunicação.


Where do you find love? If we knew, we would all know where to look.
Sometimes all you need is a sign.

SIGNS

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Novamente?

Sabe aquele medo, aquela insegurança de não dar certo... de você voltar a viver todos aqueles tormentos, aquelas angústias, as mesmas velhas decepções.
Dores cicatrizadas...Ferimentos cobertos e adormecidos.
E o medo aflora quando surgi um indício de tudo aquilo voltar. Você fica com um pé atrás, de maneira inconsciente vai se afastando aos poucos, criando muralhas em volta de seu já machucado coração...
E quando de repente começas a se deixar levar por novas emoções, novos amores, eis que surgi repentinamente a amiga do medo, ela mesmo, a insegurança!
-"E se não der certo?";-"E se eu me entregar demais?";-"E se...";-"E se..."
Receio de sofrer, de chorar feito criança, de achar que aquilo é o fim...Medo disso, medo daquilo...
E no fundo temos dó do pobre coração que não suporta mais sofrer...coitado, até quando vai aguentar? Será que ele é tão forte assim? Será que ele supera mais uma alfinetada... um chute, uma rejeição? Será que...? Será que...?
E o que fazer?
Tenho medo. Sou forte... mas há momentos, como nesse exato instante que me dá um arrepio, que faz eu perceber o quão meu coração pode ser frágil, e que talvez as muralhas que construí ao redor dele não foram tão fortes como eu imaginava...aliás, nunca são!
Ah coração, tenho dó de ti... já passaste por tantas armadilhas, por tantos abismos...você merece sossego... mas não sossego de amores, amores são sempre bem vindos...Precisa apenas de um tempo dessa insegurança que insiste em te atormentar.
(Hosana Lemos)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Persistência...

Texto 1
Ela queria um carinho. Olhou pra ele triste e sozinho, e disse:
- Você quer um abraço?
Ele olhou assustado pra bela moça parada exatamente à alguns centímetros dele, lhe olhando com os olhos simples e carregados de humildade.
- Não precisa... Acho que você não iria gostar dele.
- E porque não?
- Porque ninguém gosta dele, não é de se suspeitar que será tão mal que você também não irá gostar. Não quero decepcioná-la... Não tente...
Ela pousou o dedo indicador sobre a boca e pediu silencio.
- Oras, deixe de tolice. Se tu não agradaste à tua amada, é porque ela não é para ti. Agora não me deixe desistir de tentar. Nem pra todo mundo é igual, pra mim pode ser que ele seja bom. Anda vamos, venha cá.
Ele olhou pra ela desconfiado, levantou da grama e saiu andando.

Certo dia, ele voltou sorridente e disse:
- Agora podes me abraçar.
Ela lhe fitou intrigada.
- E por que antes não?
- Porque meu coração estava tão doente e ferido que ele somente iria usar você, para causar dor a moça que me rejeitou, e isso só iria me causar mais dor. Esperei que a dor cessace. Agora podes me abraçar com todo o amor; agora sim, sentirei o que sentes por mim em apenas um abraço.
Ela sorriu pra ele, chegou mais perto e lhe abraçou com força e com carinho abundante. Ele olhou pra ela surpreendido e com um brilho nos olhos.
- Tu tinhas razão sobre ser diferente com ela, talvez seja porque não havia mesmo amor. E eu não havia me dado conta.

Texto 2
Às vezes, desistimos de tentar, e persistimos somente nas derrotas. Firmamos num horizonte vazio e obscuro. 'AH, mas isso não dará certo'. E muitas vezes nem dão mesmo. O pessimismo, força que atraia coisas ruins do universo? Dá arrepios só de pensar nesta possibilidade de solução. Pensar em coisas boas? Somente isso resolverá meus problemas? Bom, resolver talvez não, depende da situação em que se encontra. Mas acho que dá menos dor de cabeça, e extress. E sabe-se que às vezes, um determinado problema sem solução nos causa uma tremenda dor de cabeça, e então nos isolamos, ignoramos as pessoas, ofendemos até algumas, e isso só atraí mais e mais problemas. Sorrir, já basta. Deeeeixa pra lá. Xó problema! Quero saber disso não!

http://comentalanomeublog.blogspot.com/2009/10/persistencia.html

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Frases de filmes...


Introdução do filme: O amor não tira férias.
-Comprovei que tudo que já foi escrito sobre o amor é verdade. Shakespeare disse: "as buscas terminam com o encontro dos apaixonados". Que idéia maravilhosa!! Pessoalmente, eu nunca passei por nada parecido com isso. Mas estou convencida de que Shakespeare já. Suponho que penso no amor mais do que deveria; me admira o grande poder do amor em alterar e definir as nossas vidas. Shakespeare também disse que o amor é cego. Isso sei que é verdade. Para alguns, sem explicação, o amor se apaga. Para outros o amor se vai.. ou brota quando menos se espera, mesmo que seja só por uma noite.No entanto, existe outro tipo de amor. O mais cruel... aquele que quase mata suas vitimas. Chama-se "amor não correspondido". E nesse tipo, sou experiente. A maioria das histórias de amor falam das pessoas que se amam mutuamente. Mas, o que acontece com os demais? E as nossas histórias? Aqueles que se apaixonam sozinhos? Somos vitimas de uma relação unilateral. Somos os amaldiçoados dos amantes, somos os não amados. Os mortos vivos, os deficientes sem estacionamento reservado..."

“Eu sei como é se sentir extremamente pequena e insignificante e como isso doi em lugares que você nem sabia que tinha em você. E não importa quantos cortes de cabelo você faça, quantas vezes vá a academia ou quantas garrafas você toma com suas amigas, você continua indo pra cama todas as noites… repassando todos os detalhes e se perguntando o que fez de errado ou como pôde ter entendido errado.. ou como por aquele momento pensou que era feliz. Até se convence que um dia ele irá se arrepender e virá bater na sua porta…e depois de tudo, ainda que essa situação tenha durado muito tempo, vc vai para um lugar novo e conhece pessoas que te fazem sentir útil de novo... e vai recompondo sua alma, pedaço a pedaço... e toda aquela confusão, os anos desperdiçados da sua vida começam a desaparecer...” O Amor Não Tira Férias


"Show me. Where is this love? I can't see it. I can't touch it. I can't feel it. I can't hear it. I can hear some words but I can't do anything with your easy words. Whatever you say, it's too late." Closer


"Garotas aprendem muitas coisas crescendo.
Nunca tente se auto proibir..
E um dia, encontrará um cara maravilhoso e terá um final feliz.
Todo filme que vemos,toda história contada, nos implora para que esperemos a reviravolta do 3º ato. A inesperada declaração de amor. A exceção à regra.
Mas, às vezes, nos focamos tanto em achar nosso final feliz,que não aprendemos a ler os sinais. Como distinguir os que nos querem e os que não? Os que ficam e os que vão embora.
Talvez, esse final feliz não inclua um homem incrível. Talvez, seja você por conta própria.
Catando os pedaços e recomeçando. Se guardando para algo melhor no futuro.
Talvez o final feliz seja apenas seguir em frente. Talvez, o final feliz seja fazer isto: passando pelas ligações não retornadas e corações partidos, por todos os erros e sinais não vistos, pela dor e vergonha. Nunca perca a esperança."
Ele não está tão afim de você


- Ria, e o mundo rirá com você. Chore e chorará sozinho.
Old Boy


"Emily, sempre a dama de honra, nunca a noiva."
"Diga-me, Emily, o coração ainda se desilude depois que para de bater?"
A noiva cadáver


Cena em que ele ta no hospital e a médica pergunta o pq dele ter cortado o próprio dedo...
"Eu queria sentir no meu corpo.... tanta dor quanto sinto no coração "
Banquete do Amor


Divã:

"- O fim nunca é bom, se fosse bom... seria o começo."

"A gente só transformou uma vida chata em duas divertidas."

"Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."

"A gente fica a vida inteira procurando a outra metade da laranja, não seria mais fácil se nos fossemos uma laranja inteira?!"

"Se você não queria ser infeliz comigo, saberá ser infeliz sozinha?"

"Se eu sinto culpa? Aiiiii sinto!!! Sinto uma culpa de não sentir culpa alguma."

"Odeio intuição feminina a minha, nunca falha"

"E se eu te disser que estou com medo de ser feliz pra sempre, o que você diria? "

"A gente procura um analista em busca de definições. E depois de quase 3 anos juntos você descobre, que não há definição. Vida é falta de definição. É transitória mesmo. Agora eu entendi. Não tem a portinha certa. Não tem o mapa da mina. O mapa muda toda hora. A mina pode explodir a qualquer hora e qualquer lugar. Não é assim? Acho que eu vou te dar alta! Porque eu nunca vou estar pronta. Tudo que eu preciso é conviver bem com meu desalinho, com minha inconstância e com as surpresas que a vida traz. Ah, por falar em surpresas, estou adorando os quadros que estou fazendo. Tá sendo uma terapia pra mim. De resto Lopes, a vida continua. O sol continua manchando a minha pele, meus filhos continuam me dando trabalho. Mel Gibson? Continua firme e forte na minha imaginação. Tá rindo? É sinal que a minha vida tem graça. Porque agora eu sei, se eu tive problema um dia, não foi por falta de felicidade, não foi mesmo!"
Divã

sábado, 10 de outubro de 2009

::: Divã :::

Sou eu que começo? Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos. Nossa, pareço uma metralhadora disparando informações como se estivesse preenchendo um cadastro para arranjar marido. Ponha na conta da ansiedade. A propósito, tenho marido e tenho três filhos.

Sou professora, lecionei por muitos anos em duas escolas, mas depois passei a me dedicar apenas às aulas particulares, ganho melhor e sobra tempo para me dedicar à minha verdadeira vocação, que são as artes plásticas. Gosto muito de pintar, montei um pequeno ateliê dentro do meu apartamento, ali eu me tranco e é onde eu consigo me encontrar. Vivo cercada de pessoas, mas nunca somos nós mesmos na presença de testemunhas.

Às vezes me sinto uma mulher mascarada, como se desempenhasse um papel em sociedade só para se sentir integrada, fazendo parte do mundo. Outras vezes acho que não é nada disso, hospedo em mim uma natureza constestadora e aonde quer que eu vá ela está comigo, só que sou bem-educada e não compro briga à toa. Enfim, parece tudo muito normal, mas há uma voz interna que anda me dizendo: "Você não perde por esperar, Mercedes." É como se eu tivesse, além de uma consciência oficial, também uma consciência paralela, e ela soubesse que não vou segurar minhas ambigüidades por muito tempo.

Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessa horas não sei aonde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.

Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo.

Martha Medeiros

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Olha, Menino...

Sou de gêmeos. Um signo de ar, mutável. Eu me distraio com tudo e você não imagina a facilidade que eu tenho de viajar sem sair do lugar. Mas nem tudo que nasceu comigo, ficou. Algumas situações amarraram meus pés no chão, fazendo com que eu me agarrasse firmemente à realidade. Paixões platônicas, Lindo, são para crianças. Foi isso que eu repeti silenciosamente, até me convencer. E deu certo. Quando começo a me iludir por alguém, racionalizo tudo: Por que eu me interesso tanto por ele? Por que ele se interessaria por mim? Por que a gente daria certo? E funciona! Esqueço com impressionante rapidez do meu interesse. Ah, as coisas ficam tão mais fáceis desse jeito! Você não sabe, Menino, mas eu machuco as pessoas. Eu faço com que elas se apaixonem por mim como um desafio, como uma criança testando seus limites. Então enjoo do meu jogo e não dou explicações. Destruo corações que se abrem pra mim com tanto esforço, na esperança de terem encontrado alguém legal. Ainda dá pra você fingir que não me viu. Se der tempo, se você tiver o raro dom de controlar seu coração, se o sentimento não estiver suficientemente forte à ponto de você se prender, fuja. Se você nem ao menos me diferencia das outras pessoas que te cercam, como eu imagino, permaneça assim. Não se aproxime, não se apaixone. Não me escolha como a eleita dos seus dias. Escolha uma dessas meninas com perfis de orkut todos iguais, que gostam de msn, que querem ser pedidas em namoro. Essas meninas que choram e sofrem, depois esquecem e ficam submissas. Dessas que conseguem se apaixonar, se apegar, amar. Eu não sou assim. Eu sou fria e jogo com as pessoas - não por maldade, mas porque inconscientemente me envolvo com brincadeiras, que na verdade são vidas de gente que ama e sofre de verdade. É, procure a saída mais próxima e parta de vez para uma relação humana, comum, sólida, eterna na sua duração e cheia de palavras e promessas de carinho. Eu tenho aflição de toque e sou incapaz de jurar amor sem pensar e ter certezas.

Eu tentei racionalizar você. Fiz minha cartilha e decorei minha fala: não tenho motivos para me apaixonar. Mas por que é que eu conseguia falar com todo mundo, menos com você? O que me impedia de ser a excêntrica de sempre? Eu mal conseguia te falar 'oi'! Não é ridículo? Nas minhas férias, deu certo, não lembrava mais o motivo de eu ter me encantado, nem estava com saudades de ficar estática perto de você. Deduzi que você me achava a pessoa mais estranha do mundo, não cumprimentando, sentando ao seu lado no ônibus e só lembrando de respirar na hora de descer no ponto... É, a garota que não fala e não respira! Eu acharia louca, esquizofrênica. Não tiro sua razão, se você achar tudo isso de mim. Pode fugir agora, porque eu tenho um potencial enorme pra te trazer dor.

As férias acabaram, e eu vi você. Ah, como eu queria não ter visto! Como eu queria não ter lembrado da sensação de esquecer do oxigênio! Deletei a frase, mesmo achando impossível deletar alguma coisa da mente como num computador. E alguns dias depois, quando eu criei coragem de me aproximar e conversei com um amigo nosso em comum perto de você, consegui não ser idiota. Você não tem ideia do que é isso, não é? Se soubesse o que eu passo por sempre falar alguma coisa inapropriada quando eu menos quero, acharia linda minha façanha. Eu consegui ser simples, consegui não reclamar de nada, não falei palavrões, nem expus minhas inseguranças. Um desafio vencido. E então você começou a me falar 'oi'. Sabe o que é mais estranho? Eu sentia que você, por algum motivo, desviava o olhar quando eu cumprimentava algum amigo seu por perto. Não fazia contato visual de jeito nenhum, e eu ficava sem graça de te cumprimentar. E agora é você sorri e procura meu olhar, que às vezes desvio sem querer. Talvez você se sentisse assim: com medo de ser engolido, ou de admitir alguma coisa presa. Eu fujo dos seus olhos, mas depois me lembro de como me sentia na situação inversa. 'Oi', 'tchau' ou um sorriso, significando qualquer uma das duas opções anteriores, nossos diálogos não se expandem, mas nossos sorrisos, sim.

E no dia que a gente conversou pela primeira vez, por mais bobo e cotidiano que fosse o assunto, consegui ser natural. Perdi a ordem das pernas ao ir embora, mas você nem ficou sabendo desse detalhe. Foi um diálogo tão importante pra mim e você jamais saberá. Eu guardo pra mim toda a profundidade que eu queria dividir com você. Eu tenho medo de te assustar. Me controlo tanto quando você está perto... Com seus amigos falo besteira, falo demais, brinco. Mas não quero que você me ache vulgar, insana. Olha, Menino, o que eu procuro, é uma coisa estranha que muitas meninas passam pela vida sem conhecer ou sentir falta: compatibilidade. Eu procuro eu mesma nos outros, ou algo parecido. Você tem o que eu procuro e eu sei disso sem nunca termos conversado de verdade. Você gostaria de mim, se me desse espaço para mostrar. Eu sei disso.

Mas hoje, Lindo, é a última vez que eu vou passar horas sofrendo por você. Acabei de decidir, olha só que coisa boa. Porque é verdade, me apaixonei pela primeira vez e não fui correspondida pela primeira vez, mas as pessoas vivem sobrevivendo a esse tipo de coisa. Eu mesma já me levantei dos buracos mais escuros e voltei a caminhar. Se eu estiver enganada e você simplesmente for tímido demais pra sempre aproximar, esse risco fica por sua conta, porque não esperarei mais um sorriso seu pra ir embora. Assim como também não ficarei mais chateada por você não ter se despedido na sexta-feira e eu ter que esperar até segunda pra descobrir se você estava me evitando ou só com pressa. Não odiarei mais as meninas que te cercam e conseguem conversar com você enquanto eu só falo com os outros, tentando chegar perto. Dá pra viver em função de alguém que nem ao menos demonstra preocupação comigo? Não, não dá.

Hoje decidi te esquecer, mas amanhã vou te ver. Ah, esquece esse texto todo. Deixa só eu olhar pra você, sem respirar, sem falar, sem me mover. Acho que esse é o relacionamento mais humano que eu já tive: Só eu sinto, só eu sofro, só eu acho que existe.

Verônica H.

domingo, 4 de outubro de 2009

Me diga, como é viver com um pai em casa?

Como é acordar com sua voz bebendo café, ouvir seu bom-dia atrasado ao serviço? Como é ter um pai entrando no quarto secretamente, para ver se finalmente dormi? Um pai que confere a extensão das cobertas e se as janelas estão fechadas? Um pai que coloca remédio de mosquito e esfrega a manga morna do pijama em minha testa? Como é ter um pai que me acompanha na consulta ao médico? Um pai que assina o boletim? Como é ter um pai perseguindo baratas pela tranqüilidade doméstica? Como é brincar com um pai: aprender a dobradura de papel de chapéu e barcos? Como é ter um pai para perguntar que horas ele voltou do trabalho? Como é empurrar um pai pelos barulhos estranhos no pátio? Como é ter um pai angustiado com a demora materna, e que me dá banho, me oferece janta e esconde sua preocupação? Como é ter um pai para segurar as lâmpadas enquanto ele sobe na escada? Como é ter um pai para se escorar enquanto ensaio a primeira seqüência de passos? Como é andar de bicicleta com um pai? Observar atrás se ele me segue? Como é escutar o ronco terrível do pai e se sentir protegido? Como é ter um pai para reclamar docilmente da mãe, dizer que ela não me entende? Como é ter um pai que não me entende? Como é ter um pai para freqüentar a casa dos avós no final de semana? Como é ter um pai para xingar e logo após reaver a gentileza do abraço? Um pai que estará no seu escritório, num lugar certo, a facilitar minha desculpa? Como é ter um pai para responder com confiança aos seus conhecidos como está meu pai? Um pai para me levar aos jogos de futebol e ocupar o trajeto de volta comentando o resultado? Como é ter um pai para receber presentes de aniversário, e me ajudar a retirar o papel bonito sem estragar? Como é ter um pai para sanar as dúvidas das aulas, as operações difíceis, as curiosidades sobre planetas, estrelas e bichos? Como é ter um pai mais rápido do que o dicionário e que conta o que significa tal palavra? Como é ter um pai com passado? Como é ter um pai chateado, endividado, alinhando contas do que não podemos mais gastar? Como é ter um pai com emprego novo, que não pára de falar das novidades no almoço? Como é ter um pai para pedir o carro emprestado? Um pai para inventar uma mentira e dormir fora de casa? Como é ter um pai aguardando na saída da escola? Como é ter um pai preocupado, confessando que perdeu o sono quando na verdade o esperava na madrugada? Como é ter um pai para me convencer que as dores passam, que amanhã estarei bom, que eu tive coragem? Como é ter um pai a me orientar - de um modo patético - sobre transar com segurança? Como é ter um pai beijando a mãe, sussurrando qualquer coisa que a faça rir, e eu me escondendo para que não me vejam? Como é ter um pai para sair ao cinema, e escorrer pipocas pelas suas mãos? "Como é ter um pai para sentir saudade devagarinho, de um dia para outro ou por algumas horas?" Como é ter um pai preocupado em fotografar a família nas férias? Como é ter um pai festejando uma promoção com jantar no restaurante predileto e só entender sua alegria? Como é ter um pai histérico, procurando seus óculos, seus livros e cartões extraviados? Como é ter um pai alegando que estava nervoso depois de uma grosseria e compreender que é o máximo que ele se aproximará de um perdão? Como é suportar um pai cantando desafinado suas músicas antigas? Como é ter um pai a me socorrer e convencer a mãe a gostar de minha namorada? Como é sentar no sofá com um pai e assistir um filme reprisado e comentar: “esse eu já vi”: e continuar assistindo a amizade de sentar ao lado dele? Como é ter um pai para ser parecido com ele? Como é ter um pai vibrando com minha aprovação no vestibular, pregando faixas na frente da residência? Como é ter um pai para procurá-lo nas centenas de poltronas da formatura? Como é ter um pai que explica que “as coisas eram diferentes no seu tempo”? Como é ter um pai que não descobriu que envelheceu porque empresto meus olhos da infância? Como é ser espetado no rosto pela barba do pai? Faz coceira, arranha?

Sempre quis saber...


(Fabrício Carpinejar)

sábado, 3 de outubro de 2009

Silêncio


Disse pra mim. Nenhum pio. Não vou falar nada.
Já que sou tão imprópria, inadequada, boba.
Já que nunca basto e se tento me excedo.
Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo.
Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu riso incomoda.
Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca.
Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança.
Minha saudade é prisão. Minha preocupação chatice.
Minha insegurança problema meu. Meu amor é demais.
Minha agressividade insuportável. Meus elogios causam solidão.
Minhas constatações boas matam o amor.
As ruins matam o resto todo. Minhas críticas causam coisas terríveis.
Minhas palavras cuidadas incomodam.Minhas palavras jogadas, mais ainda.
Minhas opiniões sempre se alongam e cansam.
Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito.
Meu sem fim dá logo vontade de encurtar.
Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nunca agradam.
Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos de frases são jovens demais.
Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra.
Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego.
Minha voz doce assusta. Minha voz brincalhona é ridícula.
Minha voz séria alarde. Nenhum pio. Disse pra mim.
Falar do que sinto é, na hora, desintegrar com seu olhar.
Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto.
Devo sentir por personagens de livros, filmes, jornais e ruas?
É assim que se diz sem ser o que não importa de verdade? E se for o contrário?
Mas pra dizer do contrário, fica sempre no ar, é melhor não dizer.
Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim.
Se digo algo sobre a vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida.
Se falo sobre a vida dos outros, que papo furado é esse?
Se falo sobre coisas me sinto mais uma delas.
Se provoco, eu que provoque sozinha porque ele não é trouxa de cair.
Sobre livros, nunca são os que interessam.
Sobre minha reportagem, nem quis ler.
Meu trabalho nunca foi e nunca será da mulher dos sonhos.
Meus sonhos evito falar, um medo de ser menina. Quieta.
É assim que será. Se digo certo, isso logo acaba.
Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba.
Se eu for mulher, mulher é um saco. Se eu for homem, homem só existe ele.
Se eu for criança, fale com sua analista. Nenhum pio. Combinei comigo.
Falar da gente pode? Pode, desde que, depois, eu tenha estrutura para ver toda uma massa desistente desabando sobre meu sofá pequeno.
Nadinha. Não vou falar nada. Sobre dor não toca.
Sobre prazer toca pouco. Nada. Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende.
E se respondo, ofende mais. E se exclamo, minha vontade de viver soterra.
E se são três pontinhos, não posso. Se começo preciso terminar.
Mas quando termino, ele já não está mais. Se repito, quase explode.
Se digo uma, sou boa de ser guardada em algum lugar que nunca vejo.
Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca.
Quieta. Isso! Você consegue! Se for o que eu penso, eu penso errado.
Se for o que eu não penso, errei por não pensar.
Se não for nada disso, eu que pensasse antes.
Se estou animada, cuidado com a rasteira.
Se estou desanimada, não tem mão pra levantar.
Nada. Não vou sussurrar. Nem gemer. Nenhum som.
Respiração muda. O silêncio absoluto. Olhando pra ele.
Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade.
E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento.
O que eu mais temia. O que eu não queria descobrir.
Ela me diz. E o pior é que eu nem posso falar por ela. É tudo mentira.

Tati Bernardi

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quem Quer Pôr Terno No Macaco?

Semana passada ouvi de um grande amigo uma grande verdade: “Chega uma hora na vida que você tem que abrir mão do selvagem dentro de você para manter amigos, empregos e constituir família. Ou você pode escolher ser um louco e viver sozinho.”

No meu último emprego, quando pedi demissão, ouvi do meu chefe, também um grande homem em raras ocasiões: “Toda essa sua mania de ser louquinha e falar o que pensa, só vai te garantir um emprego fixo: banda de rock.”

Acho que todos têm razão. E venho tentando, com orações dadas pela minha mãe desesperada com meu jeitinho nada meigo, yoga, terapia, sexo, pilates, mantras e muita conversa com amigos em geral, ser uma pessoa mais equilibrada.

Uma amiga me disse: “Quem briga por tudo e quer medir poder com todo mundo, na verdade está tentando provar que não é um bosta, tá brigando consigo mesmo”.

Pura verdade, quando minha auto-estima está em suas piores fases, é aí que a coisa pega: fico com mania de perseguição, acho que tá todo mundo querendo foder comigo, que existe um complô universal contra a minha frágil pessoa. Meu ataque nada mais é do que a defesa amedrontada de uma menina boba.

Mas a verdade é que eu odeio o equilíbrio. Porra, se eu tô puta, eu tô puta! Se eu tô com ciúme, não vou sorrir amarelo e mostrar controle porque preciso parecer forte e bem resolvida. Se o filho da puta que senta do meu lado é um filho da puta, eu não vou fazer política da boa vizinhança, eu vou mais é berrar e libertar essa verdade de dentro do meu fígado: você é um grandessíssimo filho de uma puta! Se a vaca da catraca do teatro me tratou mal, eu vou mais é falar mesmo que ela é uma horrorosa que não vê pica há anos, ou melhor, que a última pica que viu foi do padrasto que a estuprou!

O sangue ferve aqui dentro, e eu não tô a fim de transformá-lo num falso líquido rosa que um dia vai me dar um câncer. Eu não tô a fim de contar até 100, eu quero espancar a porta do elevador se ele demorar mais dois segundos, quero morder o puto do meu namorado que apenas sorri seguro enquanto eu me desfaço em desesperos porque amar dói pra caralho, quero colocar TODAS as pessoas do meu trabalho que falam “Fala, floRRRR!” ou “Precisamos disso ASAP” numa câmera de gás peristáltico.

Eu sou antipática mesmo, o mundo tá cheio de gente brega e limitada e é um direito meu não querer olhar na cara delas, não tô fazendo mal a ninguém, só tô fazendo bem a mim. Minha terapeuta fala que eu preciso descobrir as outras Tatis: a Tati amiga, a Tati simpática, a Tati meiga, a Tati que respira, a Tati que pensa, a Tati que não caga em tudo porque deixou a imbecil da Tati de cinco anos tomar as rédeas da situação.

Ela tem razão, mas é tão difícil ver todos vocês acordando de manhã sem nada na alma, é tão difícil ver todos os casais que só sobrevivem na cola de outros casais que só sobrevivem na cola de outros casais, é praticamente impossível aceitar que as contas do final do mês valham a minha bunda sentada mais de 8 horas por dia pensando o quanto eu odeio essa gente que se acha “super” mas não passa de vendedor de sabonete ambulante.

É tão difícil ser mocinha maquiada em vestido novo e sapato bico fino quando tudo o que eu queria era rasgar todos os enfeites e cagar de quatro no meio da pista enquanto as tias chifrudas bebem para esquecer as dúvidas ao som de “Love is in the air”.

Parem de sorrir automaticamente para tudo, humanos filhos da puta, admitam que vocês não fazem a menor idéia do que fazem aqui. Admitam a dor de estar feio, e admitam que estar bonito não adianta porra nenhuma.

Eu já me senti um lixo de pijama com remela nos olhos, mas nunca foi um lixo maior do que me senti gastando meu dinheiro numa bosta de salão de beleza enquanto crianças são jogadas em latas de lixo porque a total miséria transforma qualquer filho de Deus em algo abaixo do animal.
Mas eu não faço nada, eu continuo querendo usar uma merda de roupinha da moda numa merda de festinha da moda no meio de um monte de merdas que se parecem comigo. Eu quero feder tanto quanto eles para ser bem aceita porque, quando você faz parte de um grupo, a dor se equilibra porque se nivela.

E eu continua perdida, sozinha, achando tudo falso e banal. Acordando com ressaca de vida medíocre todos os dias da minha vida.

Grande merda de vida, você muda a estação do rádio para não reparar que a menina de dez anos parada ao lado do seu carro, já tem malícia, mas não tem sapatos. Você dá mais um gole no frisante para não reparar que a moça da mesa ao lado gostou do seu namorado, e ele, como qualquer imperfeito ser humano normal, gostou dela ter gostado.

Você disfarça, a vida toda você disfarça. Para não parecer fraco, para não parecer louco, para não aparecer demais e poder ser alvo de crítica, para ter com quem comer pizza no domingo, para ter com quem trepar na sexta à noite, para ter quem te pague a roupa nova e te faça sentir um bosta e para quem te pede socorro, você disfarça cegueira.

Você passa a vida cego para poder viver. Porque enxergar tudo de verdade dói demais e enlouquece, e louco acaba sozinho. Vão querer te encarcerar numa sala escura e vazia, ninguém quer ter um conhecido maluco que lembra você o tempo todo da angústia da verdade e de ter nascido. Você passa a vida cego, mentindo, fingindo, teatralizando o personagem que sempre vence, que sempre controla, que sempre se resguarda e nunca abre a portinha da alma para o mundo. Só que a sua portinha um dia vira pó, e você morre sem nunca ter vivido, e você deixa de existir sem nunca ter sido notado. Você é mais uma cara produzida na foto de mais uma festa produzida, é um coadjuvante feliz dessa palhaçada de teatro que é a vida.

Você aceitou tudo, você trocou as incertezas da sua alma pelas incertezas da moça da novela, porque ver os problemas em outros seres irreais é muito mais fácil e leve, além do que, novela dá sono e você não morre de insônia antes de dormir (porque antes de dormir é a hora perfeita para sentir o soco no estômago).

Você aceita a vida, porque é o que a gente acaba fazendo para não se matar ou não matar todos os imbecis que escutam você reclamar horas sem fim das incertezas do mundo e respondem sem maiores profundidades: relaaaaaaaaaaaaaxa!

Eu não vou fumar, eu não vou cheirar, eu não vou beber, eu não vou engolir, eu não vou fugir de querer me encontrar, de saber que merda é essa que me entristece tanto, de achar um sentido para eu não ser parte desse rebanho podre que se auto-protege e não sabe nem ao certo do quê. Eu não vou relaxaaaaaaaaaaaaaaaaaar.

A única verdade que me cala um pouco e, vez ou outra, me transforma em alguém estupidamente normal é que virar um louco selvagem que fala o que pensa, sem amigos e sem namorados, só é legal se você tiver alguém pra contar o quanto você é foda no final do dia.

Tati Bernardi

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Mais ou menos...


A gente pode morar numa casa mais ou menos,
Numa rua mais ou menos,
Numa cidade mais ou menos,
E até ter um governo mais ou menos.

A gente pode dormir numa cama mais ou menos,
Comer um feijão mais ou menos,
Ter um transporte mais ou menos,
E até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está maisou menos.
Tudo bem.

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum:
É amar mais ou menos,
É sonhar mais ou menos,
É ser amigo mais ou menos,
É namorar mais ou menos,
É ter fé mais ou menos,
E acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.
(Chico Xavier)

"Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia…”

Martha Medeiros .